Comorbidades no Paciente com DPOC

Outubro, 2023

 

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Introdução

A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é a quarta maior causa de mortalidade no mundo, e entre as doenças crônicas de alta prevalência, constitui a de maior importância.1 No Brasil, sua prevalência é de aproximadamente 17%, sendo a região Centro Oeste a que possui maior prevalência (~25%).2,3

A DPOC está relacionada à múltiplas comorbidades, como doenças cardiovasculares, neoplasias, distúrbios metabólicos, doenças neuropsiquiátricas e gastrointestinais.2 Um estudo com 45 mil pacientes diagnosticados com DPOC revelou que a insuficiência cardíaca foi a principal causa de hospitalização nesses pacientes, seguida por infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral.3 Esses dados são de fundamental importância, uma vez que o paciente com DPOC e comorbidades associadas corre mais risco de ir a óbito.4

O que há de mais recente nesse campo, é que diversos autores passaram a observar diferenças relevantes na prevalência das comorbidades da DPOC conforme o gênero dos pacientes, no que diz respeito ao prognóstico, classificando as comorbilidades de comorbidoma, quando relacionadas aos distúrbios extrapulmonares e utilizando o temo “pulmorbidoma”, para referir às comorbidades associadas à doenças pulmonares intrínsecas5. Nos homens, a obesidade, hipertensão, doença arterial coronariana, cirrose hepática, osteoporose, doença renal, anemia e aumento da frequência cardíaca (FC) predizem mortalidade, em mulheres insuficiência cardíaca, hiperuricemia, doença renal e FC aumentada (p < 0,05 cada).5 Em relação ao pulmorbidoma, observou-se que em homens há maior déficit na capacidade de difusão e maior nível de hiperinsuflação. Em contrapartida, em mulheres, há maior prevalência de asma e hiperinsuflação, o que levou os autores a alertar que as diferenças de gênero precisam ser consideradas na avaliação de risco de DPOC para uma abordagem individualizada no manejo efetivo da DPOC5 (Fig-1).

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Fig-1 Adaptada de: Trudzinski FC, et al. Sex-specific associations of comorbidome and pulmorbidome with mortality in chronic obstructive pulmonary disease: results from COSYCONET. Scientific Reports. 2022;24;12(1):1-0.     
O painel esquerdo desta figura refere-se aos homens, o painel direito às mulheres. Cada painel mostra a proporção de risco, bem como a prevalência das comorbidades analisadas. Associações estatisticamente significativas (p < 0,05), são indicadas pelos círculos em linha cheia, sendo as não significativas pelos círculos abertos. Comorbidades que fazem parte do comorbidoma estão marcadas em vermelho, e às relacionadas aos do pulmorbidoma em azul. A área de cada círculo representa a prevalência na respectiva população. O círculo pontilhado indica uma taxa de risco de 1. A distância da comorbidade ao ponto central (morte). indica a magnitude da razão de risco.

Um estudo conduzido nos Estados Unidos, demonstrou que as comorbidades foram responsáveis por quase 46% do excesso de custos de saúde associados à DPOC e esse dado é especialmente importante em um país como o Brasil, onde as taxas de internação pela doença são muito altas, o que gera um custo elevado ao sistema único de saúde (SUS).6

O manejo adequado do comorbidoma e do pulmorbidoma nesses pacientes envolvem o diagnóstico precoce e tratamento das comorbidades em conjunto com o tratamento da DPOC.3,5 Nesse contexto, o envolvimento multidisplinar no acompanhamento do paciente do DPOC, tornou-se imperativo para que o paciente tenha sua qualidade de vida assegurada.

Referências
  • 1.
    López-Campos JL, et al. Global burden of COPD: global burden of copd. Respirology. 2016;21(1):14-23.
  • 2.
    Iglesias JR, et al. Management of the COPD Patient with Comorbidities: an experts recommendation document. International Journal Of Chronic Obstructive Pulmonary Disease. 2020;15:1015-1037.
  • 3.
    Cruz MM, Pereira M. Epidemiology of chronic obstructive pulmonary disease in Brazil: a systematic review and meta-analysis. Ciênc saúde coletiva. 2020;25(11):4547-4557.
  • 4.
    Chatila WM, et al. Comorbidities in chronic obstructive pulmonary disease. Proceedings of the American Thoracic Society. 2008;5(4):549-555.
  • 5.
    Trudzinski FC, et al. Sex-specific associations of comorbidome and pulmorbidome with mortality in chronic obstructive pulmonary disease: results from COSYCONET. Scientific Reports. 2022;24;12(1):1-0.
  • 6.
    Negewo NA, et al. COPD and its comorbidities: Impact, measurement and mechanisms: COPD and its comorbidities. Respirology. 2015;20(8):1160-1171.
  • 7.
    Rabahi MF. Epidemiologia da DPOC: enfrentando desafios. Pulmão RJ.2013;22(2):4-8.

SC-BR-05653