Incidência relativa de doenças pulmonares intersticiais no Brasil
Junho, 2024
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Introdução
Dados sobre a incidência de doenças pulmonares intersticiais (DPIs) no Brasil são escassos. Este estudo, avaliou a frequência relativa de casos incidentes de doenças pulmonares intersticiais (DPI) no Brasil, por meio de um levantamento retrospectivo de casos novos de DPI em seis centros de referência entre janeiro de 2013 e janeiro de 2020. Os autores utilizaram critérios sugeridos por órgãos internacionais para o diagnóstico de DPI, ou realizaram discussão multidisciplinar (DMD) para chegar no diagnóstico final. Em casos de discordância entre dados clínicos, radiológicos, histológicos ou sem diagnóstico específico após DMD, a condição foi caracterizada como DPI não classificável.
Principais achados
Foram analisados 1.406 pacientes (média de idade = 61 ± 14 anos), sendo 764 (54%) do sexo feminino. Os centros de referência incluídos no estudo, localizam-se geograficamente nas regiões sudeste, centro-oeste e nordeste (dois centros na cidade de São Paulo, dois em Belo Horizonte, um em Goiânia e um em Salvador).
Os diagnósticos finais foram:
DPI associada à doença do tecido conjuntivo (DTC) (em 27%);
Pneumonite por Hipersensibilidade (PH) (em 23%);
Fibrose pulmonar idiopática (em 14%);
DPI não classificável (em 10%);
Sarcoidose (em 6%).
Nos resultados, foi identificado que há maior prevalência de DPI associada a DTC, e dentro desse grupo, as mais prevalentes foram Doença Pulmonar Intersticial associada à Esclerose Sistêmica (DPI-ES) (31,2%) e Doença Pulmonar Intersticial associada à Artrite Reumatoide (DPI-AR) (17,6%) e IPAF (interstitial pneumonia with autoimmune features) (14,7%), seguida de Sjogren (10,9%) e miosite autoimune (9,9%).
Dos 747 casos expostos a antígenos para PH, 327 (44%) tiveram diagnóstico final de PH;
Em 8% dos casos houve relato de história familiar de DPI;
Os achados de TCAR foram indicativos de fibrose em 74% dos casos, incluindo faveolamento, em 21% deles;
Autoanticorpos relevantes foram detectados em 33% dos casos;
Biópsia transbrônquica foi realizada em 23% dos pacientes, e biópsia pulmonar cirúrgica, em 17%.
Além disso, um dado interessante, foi que os diagnósticos variaram significativamente entre os centros (χ2 = 312,4; p < 0,001).
Conclusões
Os achados deste estudo brasileiro mostram que DPI associada à doença do tecido conjuntivo é a DPI mais comum em nosso país, seguida pela PH. Também, é importante destacar que nem toda as regiões brasileiras foram contempladas e há espaço para dados mais regionalizados, visto que houve variação de diagnósticos entre os centros analisados.
Finalmente, os dados do estudo brasileiro corroboraram em partes com o estudo mundial INBUILD, que avaliou a eficácia e segurança de nintedanibe em DPIs fibrosantes progressivas, e teve PH e doenças autoimunes como as mais prevalentes, representando mais de 50% da população do estudo. Esses resultados destacam a necessidade de uma estreita colaboração entre pneumologistas e reumatologistas, a importância de fazer perguntas detalhadas aos pacientes a respeito de uma potencial exposição a antígenos e a necessidade de campanhas de saúde pública destinadas a enfatizar a importância de evitar essa exposição.
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Referências
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1.
Matias, SLK, et al. Incidência relativa de doenças pulmonares intersticiais no Brasil. Jornal Brasileiro de Pneumologia 2024;50:e20230232.