A empagliflozina reduz o risco de hipercalemia em pacientes com IC?1

Outubro, 2023

 

Leia ou ouça este conteúdo

Arquivo de áudio

Introdução

Pacientes com insuficiência cardíaca (IC) frequentemente experienciam anormalidades do potássio durante a progressão da doença devido à ativação neuro-hormonal relacionada à IC, às comorbidades - como doença renal crônica (DRC), idade avançada ou diabetes mellitus - ou aos tratamentos instituídos - como inibidores do sistema renina-angiotensina-aldosterona (ISRAA), diuréticos e beta-bloqueadores.2-3

A hipocalemia e a hipercalemia tem sido associadas ao pior prognóstico da IC.4-7 A hipercalemia tem recebido maior atenção pois pode limitar o início, manutenção ou aumento da titulação dos ISRAA que melhoram o prognóstico da IC.8 Em estudos prévios, os inibidores de SGLT2 reduziram a incidência de hipercalemia em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DM2) e DRC9 e em pacientes com IC e fração de ejeção reduzida (ICFEr) usando antagonistas do receptor mineralocorticoide (ARM).10,11

Essa análise tem como objetivo estudar o efeito da empagliflozina no potássio sérico e o uso de quelantes de potássio na IC em todo o espectro da fração de ejeção, utilizando dados do EMPEROR-Pooled (EMPEROR-Reduced e EMPEROR-Preserved combinados).

Desenho do Estudo

Trata-se de uma análise combinada de dois estudos duplo-cego e controlados por placebo, no qual os pacientes foram randomizados para receber empagliflozina 10 mg ou placebo, diariamente, em associação à terapia padrão. O potássio sérico foi coletado na randomização e a cada visita subsequente. 9583 pacientes com potássio basal disponível foram incluídos na presente análise (98,6% da população do EMPEROR-Pooled cujo n=9718).

O desfecho primário foi composto por hipercalemia reportada pelo investigador ou início de quelantes de potássio. Hipocalemia e hipercalemia foram definidas pelos valores de potássio sérico: hipocalemia severa <3,0 mmol/L, hipercalemia >5,5 mmol/L e hipercalemia severa >6,0 mmol/L.

Resultados

A empagliflozina reduziu o composto de hipercalemia reportada pelo investigador ou a necessidade de início de quelantes de potássio em comparação com o placebo [6,5% versus 7,7%, razão de risco (RR) 0,82, intervalo de confiança (IC) de 95% 0,71-0,95, p=0,01]. Este resultado foi consistente em ambos os ensaios clínicos e nos diversos subgrupos estudados - idade, IMC, raça, fração de ejeção, razão albumina/creatinina urinária , classe funcional da New York Heart Association (NYHA), hipertensão, diabetes e uso de ARM. O efeito foi mais pronunciado em pacientes com menores taxas de filtração glomerular estimada (TFGe) e em pacientes com histórico de hospitalização por IC nos últimos 12 meses (p de interação <0,05 para ambos).

A incidência de hipocalemia reportada pelo investigador ou potássio sérico <3,0 mmol/L não aumentou significativamente com o uso da empagliflozina.

Conclusões

A empagliflozina em associação à terapia padrão reduziu a incidência de hipercalemia sem causar hipocalemia excessiva em pacientes com IC em uma ampla gama de frações de ejeção.

Referências
  • 1.
    Ferreira JP, et al. Empagliflozin and serum potassium in heart failure: an analysis from EMPEROR-Pooled. European Heart Journal. 2022;43(31):2984-2993.
  • 2.
    Ponikowski P, et al. 2016 ESC Guidelines for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure: The Task Force for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure of the European Society of Cardiology (ESC). Developed with the special contribution of the Heart Failure Association (HFA) of the ESC. Eur J Heart Fail 2016;18:891–975.
  • 3.
    Yancy CW, et al. 2016 ACC/AHA/HFSA focused update on new pharmacological therapy for heart failure: an update of the 2013 ACCF/AHA guideline for the management of heart failure: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on clinical practice guidelines and the Heart Failure Society of America. J Am Coll Cardiol 2016;68:1476–1488.
  • 4.
    Aldahl M, et al. Associations of serum potassium levels with mortality in chronic heart failure patients. Eur Heart J 2017;38:2890–2896.
  • 5.
    Nunez J, et al. Long-term potassium monitoring and dynamics in heart failure and risk of mortality. Circulation 2018;137:1320–1330.
  • 6.
    Ferreira JP, et al. Serum potassium in the PARADIGM-HF trial. Eur J Heart Fail 2020;22:2056–2064.
  • 7.
    Ferreira JP, et al. Serum potassium and outcomes in heart failure with preserved ejection fraction: a post-hoc analysis of the PARAGON-HF trial. Eur J Heart Fail 2021;23:776–784.
  • 8.
    Rossignol P, Lainscak M, Crespo-Leiro MG, Laroche C, Piepoli MF, Filippatos G, et al. Unravelling the interplay between hyperkalaemia, renin-angiotensin-aldosterone inhibitor use and clinical outcomes. Data from 9222 chronic heart failure patients of the ESC-HFA-EORP heart failure long-term registry. Eur J Heart Fail 2020;22:1378–1389.
  • 9.
    Neuen BL, et al. Effects of canagliflozin on serum potassium in people with diabetes and chronic kidney disease: the CREDENCE trial. Eur Heart J 2021;42:4891–4901.
  • 10.
     Shen L, et al. Dapagliflozin in HFrEF patients treated with mineralocorticoid receptor antagonists: an analysis of DAPA-HF. JACC Heart Fail 2021;9:254–264.
  • 11.
     Ferreira JP, et al. Interplay of mineralocorticoid receptor antagonists and empagliflozin in heart failure: EMPEROR-reduced. J Am Coll Cardiol 2021;77:1397–1407.

Material destinado exclusivamente a profissionais de saúde habilitados a prescrever e/ou dispensar medicamentos.

SC-BR-06616